terça-feira, 23 de abril de 2019

Alimentos “cara feia”: uma forma de economizar

No berço da gastronomia – a França, foi lançado um movimento para acabar com o desperdício de alimentos produzidos nas lavouras que chegavam aos mercados e feiras e que acabavam no lixo só porque estavam com uma “cara feia”.

A ideia partiu de produtores franceses que perceberam atacadistas e supermercados não utilizavam alguns alimentos. Ao arrumarem suas gondolas com frutas legumes e hortaliças, faziam uma seleção dos produtos. Dessa forma, desprezavam os que não estavam dentro de um determinado “padrão de beleza”. Mas, que ainda assim, eram próprios para o consumo humano. Só que esses produtos sumiam das vistas dos compradores.

Esses produtores foram atrás dos produtos para saber seu destino final e descobriram que iam parar no lixo. Então, tiveram a ideia de sugerir aos gerentes e administradores dos supermercados e feiras que montassem gôndolas com esses produtos de “cara feia” com uma redução de preços.  Assim, estabeleceram uma forma de aproveitar o que alguns consumidores deixavam de lado, fazendo nascer o movimento.

Nasce uma marca

A ideia pegou e virou febre. Dela nasceu uma marca Les Gueules Cassées (as caras quebradas, em tradução livre). Ela reúne produtores agrícolas franceses e visa revalorizar alimentos disformes. Já foram vendidos 10 mil toneladas de hortifrútis “feios”, segundo Nicolas Chabanne, co-fundador da marca. Na França, 20 kg de alimentos são jogados fora anualmente por pessoa. Destes, 7 kg de produtos não são nem consumidos e ainda estão embalados, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. O movimento está se espalhando por quase toda a Europa. E já está sendo exportado para outros continentes, chegando aos EUA e, quem sabe logo mais, no Brasil.

Números do desperdício no Brasil

Por aqui há um desperdício de cerca de 40% dos alimentos produzidos no campo de um total de 100%, ou seja, apenas 60% chegam à mesa dos brasileiros, dos quais boa parte sofre a mesma seleção nos atacadistas, nos mercados e feiras, e poderia ter uma destinação muito melhor do que simplesmente o lixo, auxiliando a economia doméstica e também dos restaurantes.

Imagine-se deparando com uma gôndola com legumes, hortaliças e frutas onde os produtos são 30% mais baratos com uma plaquinha dizendo “eu tenho cara feia, mas, nem por isso deixo de ser gostoso e ainda alimento você”. Pois é assim que os supermercados e feiras fazem lá fora depois do movimento que adotou o nome cara feia, e que vem revolucionando com uma nova forma de economizar.

Como utilizar os alimentos “cara feia”

Esses alimentos podem perfeitamente ser usados na culinária de transformação. Tornam-se saladas, sopas, molhos de tomate, purês de batata, sucos no caso das frutas, geleias, compotas doces e salgadas, entre tantas outras boas aplicações, reduzindo o gasto no orçamento doméstico em até 50%. Para os restaurantes, a economia é a mesma. E, se o administrador souber como aplicar esses alimentos de forma correta, mantendo os padrões de segurança alimentar, a economia pode ser ainda maior.

Os “cara feia” precisam entrar na sua lista de compras o quanto antes. Não só por conta da economia que deve ser parte da responsabilidade de administrar bem seu orçamento. Mas também porque ajuda ao produtor a manter uma boa regularidade e renda, melhorando toda a cadeia alimentar. Isso evita desperdícios gigantescos contados às toneladas todos os dias.

texto:  Marcelo Santos
*Marcelo Santos atuou chef de cozinha, professor de gastronomia, consultor de alimentos e bebidas e escritor

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