Quando falamos em produtos e ingredientes, geralmente nos associamos a uma relação cultural e histórica de um determinado local, que possivelmente se integra a atmosferas rurais do interior. A relação do homem com o alimento é a mesma de uma mãe com seu filho, a qual precisa ser compreendida, pois, na verdade, somos o que comemos. Por isso, devemos considerá-la como uma relação única de sobrevivência e, também, de prazer gastronômico.
Tempos atrás, as famílias típicas caipiras/rurais tiveram que se adaptar a uma nova geração: as que “abandonavam” o campo e o trabalho rural diário para buscar, assim, uma boa e nova oportunidade nas grandes metrópoles pelo Brasil afora, seja por um emprego, seja para proporcionar uma vida nova a seus filhos em busca de um futuro melhor.
Porém, ultimamente, esse cenário tem apresentado uma nova tendência e, consequentemente, uma mudança, que aponta para o êxodo urbano e o surgimento do chamado neo-ruralismo, termo que se refere a pessoas que encaram o campo como um espaço de oportunidades e estilo de vida que faz contraponto aos problemas das grandes metrópoles. Profissionais com carreiras ascendentes e estabilidade financeira estão vivenciando uma necessidade de retorno, de resgate das raízes, dos saberes e afazeres da terra.
Diante dessas histórias verdadeiras e dignas de um entendimento, passamos a observar hoje, na Serra da Mantiqueira e no Vale do Paraíba, grandes produtores artesãos da terra, que realizam um amplo trabalho de qualidade, na produção de ingredientes que acabam por retornar aos grandes centros, fazendo, assim, jus a sua contribuição no universo alimentar brasileiro.
Azeites, queijos, embutidos, cervejas, hortaliças e produtos orgânicos são alguns exemplos que temos pesquisado pela região. As histórias por trás dessas produções são cases de sucesso, realizados por pessoas que buscaram uma vida mais tranquila, longe da violência, dos trânsitos, das rotinas, e que se reconectaram ao que faz mais sentido a elas: semear, plantar e colher. E tudo isso também faz parte do ciclo da vida do ser humano.
Texto: Victor Rabelo
*Vitor Rabelo é professor do curso de graduação e pós-graduação de gastronomia no Centro Universitário Senac – Campos do Jordão.
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